quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Até o fim

No melhor estilo dos Acústicos MTV, que nos últimos anos são a única coisa boa que a  música brasileira tem a oferecer - por ser repeteco do que foi produzido anos antes, estou replicando um texto dramático de 2007, quando participei da maratona de porto alegre. Pra quem nunca fez nada parecido, será drama demais. Mas... e daí?!

Foi difícil. E não apenas o físico. A cabeça... os pensamentos estavam pesados... E como uma barreira, eu quebrei. 32km após a ensurdecedora buzina da largada, quebrei. Olhei em desespero para a garota que entrega copos com gatorade. Disse "É difícil; é muito difícil", e sentei em sua frente. O sonho acabou.

Corri bem até os 30km. Incrivelmente bem. Porém, mais incrível ainda foram os 12 minutos que sucederam as já 3h20 de prova. Fiquei fraco, perdi as forças e parei. Lutava contra meus pensamentos, mas não foi suficiente... Pensei em cada "boa sorte" recebido, em cada palavra de incentivo. Mas não deu. Olhei para trás e não vi o Alysson. "Ele quebrou", pensei. 3 passos depois, meu passo foi de caminhada.

Ou algo assim. Na verdade, depois ter corrido cerca de 3h30 você simplesmente não se lembra exatamente como é andar. A sensação foi estranha. Tonteei, não tive equilíbrio. Olhei em volta. Dor, muita dor. E decepção.

Caminhei por cerca de 2 km tentando engolir a idéia do fracasso. Soluços de choro brotavam. Eu estava esgotado, triste pelo fracasso e ainda faltavam 10km para a linha de chegada. Olhei para a rua, pensei num taxi. Depois numa carona - os gaúchos aparentemente são boa gente. Por fim, continuei andando. E pacientemente passei o km 33, 34 e 35. Outros corredores passavam por mim, com palavras de incentivo - as mesmas que eu os tinha dito instantes atrás, quando passava por eles.

A maratona, naquela hora, desmoronou para mim. 42km de asfalto caidos sobre a minha cabeça. 42km de esperança, de crenças... Se já sofri tamanho fracasso, foi há tempo suficiente para que eu esquecesse. Era algo que só dependia de mim, e eu falhei. E custei a acreditar nisso, enquanto pensava que talvez a medalha não fosse tão merecida...

Ao mesmo tempo, um peso saia das minhas costas. Eu não precisava mais carregar o fardo de agüentar aquela corrida, pois de fato ela tinha-se acabado. Precisava, então, apenas decidir o que faria por mim mesmo. Para os meus amigos, familiares e interessados, contaria que falhara. E quanto a isso não haviam dúvidas... Mas e pra mim? O que EU guardaria para mim mesmo? Decidi que seria o fracasso como lição, e o esforço como memória. E pus-me a correr novamente.

Do km 35 ao km 38 corri, ouvindo novas palavras de incentivo enquanto - concentrado, muito concentrado - passava por meus então colegas de maratona, ou mesmo por anônimos na rua. Aliás, eu imagino que tais anônimos não tenham sequer noção do efeito que causam ao bater 3 palmas e dizer "vamos lá! você consegue!". Nessas horas, é preciso ouvir tais palavras de uma voz diferente da sua - não importando se quem as fala sabe ou não sabe o que está falando. Basta ouvir...

No km 38, uma nova caminhada... Novamente muita dor, muitas caretas, um choro seco... O peso do fracasso, quando você faz algo que realmente acredita que irá conseguir, é algo inesquecível. Será, de certo, uma sensação inigualável...

Aos 39, um senhor passou e disse "venha! venha comigo! falta pouco e nós vamos terminar juntos!". Com 56 anos e 46 maratonas de experiência, seu Mário salvou o fim da minha corrida. Eu estava esgotado, agora completamente esgotado,mas corri os últimos 3 km baseado simplesmente nas palavras de energia dele. Nada mais que isso. No final, "vou na frente para fazer o aviãozinho, e você vem atrás fazendo!". E fomos, nós dois. Ninguém mais prestava atenção na chegada da maratona, que já completava 5h05 no cronômetro oficial desde a largada masculina. Não me importei. Eu estava chegando. Corri, sorri, ri, abri os braços, fechei os olhos, e cruzei. Eu terminara. Andando, correndo, acabado, não importava. Eu terminei, e cheguei correndo. Quando cruzei a linha, até esqueci de todo o resto. Corri até o seu Mário, que já estava adiantado, e dei um abraço - como de pai para filho. E disse obrigado.

É provável que eu nunca mais veja o seu Mário; talvez eu nunca mais corra uma maratona, ou pelo menos nunca mais passe pelo que passei. Antes de fazê-la, achei que conhecia meus limites - físicos e psicológicos. Achei que já tinha chegado neles antes. Estava enganado. Conheci hoje o limite máximo da minha capacidade. Finalmente, pois já desacreditava em tais limites. Hoje, cheguei no limite da emoção, onde o choro e o riso se encontraram; e no limite do físico, onde o movimento e o descanso se faziam indiferente. Hoje eu conheci mais um pedaço de mim, é também me decepcionei comigo. Mas foi, de fato, uma experiência incrível. Sorte minha tê-la feito antes de morrer. Como dizem, agora eu posso dizer... Antes de morrer, todos devem fazer uma maratona. ponto.

2 comentários:

  1. Oque está acontecendo?
    Porque parou de escrever?
    Estou sentindo falta...

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  2. O que está acontecendo... bom... as empresas têm consumido bastante tempo; estou treinando 4 vezes/semana para terminar a maratona melhor do que neste texto aí (rsrs); tenho uma faculdade pra tentar não reprovar por faltas; aula de samba; voo no fim de semana, ou nada no fim de semana...

    Eu não preciso nem me esconder no anonimato pra dizer que também sinto falta! Mas, como dizem... "first things first". Estou tentando, é fato que estou; mas minhas tentativas de ser superhomem não estão me passando muita confiança...

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