quinta-feira, 21 de julho de 2011

XCerrado - Recorde atrás de recorde

O segundo dia foi ainda melhor. Na verdade, como no domingo eu pude comprovar que as coisas aqui "funcionam", resolvi arriscar mais e voar mais concentrado na segunda-feira. Eu estava achando que, na inteção de voarmos em grupo, acabamos nos atrapalhando muito. Resolvi, então, que cada um faria o seu voo. No fim das contas, voamos a maior parte do tempo juntos, e deu tudo muito certo!

O voo foi mais clássico; se no domingo demoramos 40 minutos para estar na base da nuvem, na segunda-feira estávamos lá em 5 minutos, e já tiramos. Deu até pra esquecer de olhar o chão, e logo que saímos já busquei a cidade em cuja direção estávamos indo. Itaguaru, 40 e poucos km. Pareceria ridículo em outro lugar, mas fez muito sentido colocar a cidade na proa e seguir em direção a ela. Não olhamos para baixo até chegar lá...

E chegamos rápido. Desta vez, o resgate estava nos acompanhando (grande Margareth, mãe do Gauchito), e já posicionei ela da próxima cidade. E fomos em tiradas muito consistentes e constantes...

Eu e o Gauchito voamos muito juntos neste voo, nos ajudando constantemente. Em Itaguaçu ficamos baixo, e ele encontrou o canhão que nos salvou. Outra hora eu estava à frente, e assim fomos. Foi uma das primeiras vezes em que realmente consegui voar em grupo, estávamos em sinergia e com muita vontade de tocar o voo. O objetivo era voar mais rápido...

Aos poucos, o dia foi passando, os kms aumentando e o voo seguindo. O voo realmente estava mais rápido, e de repente começou a se tornar inesquecível também... Estávamos embaixo de uma cloudstreet quando, em uma termal de 3m/s, entrei pra dentro da nuvem. A base dela estava a 3000, e eu estava no cantinho dela... Segui em direção ao cross, subindo a 1.5, 2m/s, até que saí ao lado... A paisagem foi de tirar o fôlego; à minha esquerda, havia outra nuvem cuja base estava uns 200m abaixo ainda... Eu estava acima das bases, observando tudo aquilo à minha volta... Foi sensacional, e bem no dia que eu esqueci a câmera...

Seguimos o voo, perdi o Gauchito de vista (ele acabou buscando algo mais ao lado e nos desgarramos) e toquei o resto do voo sozinho... Já estávamos no final do dia, e pouco mais de 80 kms voados... Com toda aquela altura, eu me dei conta que faria 100km naquele dia - o que era meu objetivo da viagem, afinal! Fiquei contente, mas continuei concentrado...

Nesta hora, alcançamos um Torck 2 vermelho que voava bastante acelerado... Voamos um pouco juntos mas ele seguir para Nazários, e eu optei por jogar no caudal e a proa seria Santa Bárbara de Goiás. Cheguei lá sozinho e com pouco mais de 95km, e pude vivenciar certamente a paisagem mais bela que já vi em toda a minha (curta) vida de voador... A cerca de 1500m do chão, eu girava uma bolhinha de 0.6m/s junto com dois urubus, que pareciam me acompanhar em câmera lenta... No horizonte, a cerca de 10km de mim, uma queimada enorme, como que de cana de açúcar, estourava até o céu e formava uma nuvem logo acima... O chão era verde em volta, e a cidade do outro lado... O sol estava a meia altura (já eram 17h), e a cena era sublime...

Curti um pouco aquele zerinho e ele acabou. Observei no GPS a próxima cidade: Campestre. 13km. E no meio um "Marlboro" sem saída... Arrisquei. Logo no começo desta tirada bati em um 0.9m/s que me deu 700m a mais de fôlego. Ali não tive mais nem dúvida, toquei direto para Campestre. E bati os 100km!

Comemorei no rádio, porque as alegrias a gente deve compartilhar com os amigos. Festejei, gritei, e segui o rumo. E caí na roubada com 109km.

Mas e daí?! Havia batido meu recorde, estava eufórico! Gritei, pulei mais um pouco, e então tratei de dobrar rapidamente meu equipamento. A preocupação agora era com a luz do dia. Eram 17h30, e eu estava a 3km de Campestre.

Em 15 minutos estava tudo guardado, e comecei a caminhar. Mas é claro que não existem estradas retas, e a caminhada rendeu exatos 6km (1 hora) até o asfalto. Cheguei exausto, acabado, e de noite. No fim da caminhada, eu já não enxergava nada. Filmei um pouco disso e postarei aqui quando editar...

Cheguei ali e contatei o pessoal. Eles ainda estavam buscando o Raffa, que tinha tomado outro rumo (pousou com 105km, acho) e só depois iriam me buscar. E o asfalto era escuro...

E não é que eu tenha medo de escuro, mas ficar no breu, na beira da estrada, e com um mato se mexendo quando era iluminado, não é exatamente a melhor sensação que já experimentei. Com 20 minutos de espera, joguei a mochila nas costas e resolvi caminhar mais 3 quilômetros e pouco até a cidade. Usei o celular como lanterna para iluminar meu caminho, e fui marchando...

Aí sim cheguei acabado. Parecia bêbado. As pernas não andavam mais retas. Avistei um bar na entrada (Stop Bar), fechado. Andei mais duas quadras e havia uma pamonharia e pastelaria. Estava aberta... Dei graças. Cheguei e sentei-me sob olhares assustados do pessoal que comia por ali. Pedi dois sucos e dois pastéis, que me custaram R$8. Os 8 reais mais bem gastos da viagem até então!

E ali esperei até 20h30, quando chegou o Gauchito, a Margareth, o Irani e o Raffa para me resgatar. Neste dia, chegamos à Jaraguá às 23h30, e eu estava acabado. O saldo do dia, além do recorde, das paisagens e "daquela" sensação foi uma bolha enorme no calcanhar direito e dois ombros pra lá de inflamados. Coloquei pra dentro um antiinflamatório e fui dormir. Afinal, terça-feira tinha mais. E teve mesmo! Abraços, e ponto.

Link do voo: http://www.xcbrasil.org/leonardo/flight/40085
Caminhada pra sair da roubada: http://www.linhadechegada.com/Interno/VisTreino.aspx?pid=1&id=24771

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