segunda-feira, 7 de junho de 2010

O SIV melhorou meu voo?

Desde que comecei a voar, uma coisa sempre foi unânime: todos têm uma opinião muito forte sobre fazer ou não fazer um SIV. Quem já o fez tem uma opinião extremamente favorável, e quem nunca fez tem milhares e milhares de argumentos para não fazê-lo. E eu, que nunca achei necessário mas sempre considerei interessante, me obriguei a fazê-lo para cumprir as exigências da ABP para o nível 3 e habilitação para voo duplo. E não é que eu gostei?!

Bom, na realidade, o vídeo de uns posts atrás já deixou bem claro o que eu achei da brincadeira. Mas resolvi fazer um texto um pouco mais voltado para as minhas impressões técnicas sobre o que o SIV representou pra mim e para o meu voo...

Em primeiro lugar, para a decepção geral dos fãs de SIV, não acho que o SIV vai melhorar meu voo. Aliás, tenho certeza de que não passarei, agora, a enfrentar condições mais turbulentas do que já enfrentaria antes. Ok, talvez minha pequena mas existente vivência em campeonatos tenha feito com que eu já tivesse entendido o que a turbulência tem a me "oferecer", e se eu tenho ou não culhões para enfrentá-la. Não importa. Reforço o ponto: não fiquei "mais macho" do que já era.

Isso porque não acho que o SIV vá ajudar meus reflexos. O próprio Kurt parece reconhecer isso quando mudou o nome do exercício de "colapso assimétrico" para "passeio a meia vela" (aqui estou supondo!). A diferença, sutil, existe: não estamos simulando um colapso, estamos vendo que o parapente voa meio fechado (literalmente meio, metade). Isso significa que você PODE controlá-lo quando tomar uma fechada; não quer dizer que vá ter este controle quando isso acontecer de verdade. Apesar da sutileza aparente, tenho para mim que há uma diferença enorme entre fechar a metade do parapente, e controlar a parte aberta, e "ter a metade do parapente" fechada. Nesta segunda condição, você eventualmente não estará preparado, e se a reação não for instintiva você poderá entrar em giro antes mesmo de lembrar o que fazer com o lado aberto. Daí, tenho pra mim que nosso corpo é quem deve estar condicionado a reagir ao parapente, e não simplesmente nossa cabeça. E o SIV está longe de proporcionar tal treinamento, uma vez que os exercícios são muito rápidos (a cada decolagem é uma nova brincadeira)!

Daí, pego o gancho de onde quero chegar. O SIV, pra mim, foi muito, mas muito bom, do ponto de vista técnico. Pude experimentar muito do que já tinha lido, e muito do que já tinha imaginado, a respeito do voo do parapente. Como ele fecha, como ele abre, como ele se comporta, e como ele não se comporta. Mas veja bem: estou falando que entendi, não que o senti. O que foi aprimorado, no SIV, foi a minha cabeça, não meu corpo. Aqui, então, fecho meu ponto do parágrafo anterior: não fiquei "mais safo" por ter feito um SIV; o que aconteceu foi que eu entendi melhor o que eu posso ou não fazer com meu parapente, e isso certamente melhorará meu voo.

Deveras, voltei de lá mais confiante mesmo. Falando um pouco do que rolou, os exercícios de espiral e derrapagem agregaram muito em termos de pilotagem, por ajudar a entender os limites do meu corpo (naquele) e do parapente (neste). Controlar a força G e fazer o parapente realmente encaixar as bocas para baixo era algo que eu sempre tive medo de fazer, por me sentir tonto ou desnorteado logo no começo da espiral. No SIV, porém, ganhamos estranhamente uma confiança para ir mais longe, e mais longe fui, e percebi que o problema da espiral é a ACELERAÇÃO da força G, e não a força em si. Uma vez encaixada, você passa a "viver" normalmente...

Na derrapagem, por outro lado, pude perceber que, no caso do meu parapente (um UP Summit XC), posso fazer 180º de curva sem estolá-lo, e que a negativa é só depois disso. Foi muito interessante ver aquela reação, e ver que o limite que posso chegar numa curva mais fechada.

Para fechar o SIV, insisti pelo full stall (e fiz!). O full é uma sensação muito legal, principalmente por ser muito mais amedrontador visto de fora. Como o Kurt falou, este não agrega nada na pilotagem, mas o "quase flyback" que eu fiz na segunda fez que executei a manobra foi interessante, me deu um pouco mais de mão e de confiança na pilotagem. Já tinha ouvido e lido sobre o flyback ser um "reset" para a "cascata de colapsos", e sinto agora que pode ser abordagem interessante, quando estiver alto e tomar muita porrada (mas muita mesmo!) mandar um full e flyback. Não sei, também, se um dia chegarei a precisar disso... Espero que não - ou espero que sim, isso depende do ponto de vista rs...

Enfim, é isso. O que quero dizer, no fim das contas, é que o SIV, pra mim (e talvez para outros), foi uma ferramenta fantástica para "desmistificar" muita coisa, e agregar no meu CONHECIMENTO do parapente e do seu voo. Não acho que seja um curso do qual saímos VOANDO melhor; mas acho, com certeza, que é um curso para ENTENDERMOS melhor essa coisa de voar e, assim, aprimorar nossos sentidos (e, por que não, instintos). Mas é claro que esta é minha opinião, bem particular e bem pessoal, e muitos irão discordar. E se este for o caso, o espaço para comentários neste blog não exige nem assinatura. Pode xingar à vontade! :- ) Um abraço, e ponto.

Um comentário:

  1. ainda acho que vou me borrar quando for fazer o siv. mas acho que o texto aí traduz bem o curso.

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