quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Correr? Por quê?

Correr não é divertido. Correr dói. Correr faz sofrer. Correr te coloca em evidência diante de si mesmo, fazendo-te encarar suas piores sensações, piores estados físicos, simplesmente para chegar até "o final". A corrida é egocêntrica, e o corredor é vítima deste egocentrismo. "Correr" é ingrato. Você corre 10, 20, 30km, e nunca, nunca, consegue responder à pergunta ridiculamente boba: "pra quê você corre?". Não consegue ou não quer. Responder "pra chegar no final" seria muito pouco, e ainda assim não tem resposta melhor. Correr machuca.

E se está um sol escaldante, correr piora. No seu aquecimento já se vão litros e litros de água, expelidos do seu corpo por todo e qualquer póro que ele possua. Quando se começa a correr, seus braços pesam. Suas pernas querem se arrastar pelo chão. O caldo de cana é uma tentação, e o boteco da esquina não fica nada atrás. As pessoas estão tomando cerveja, passeando, caminhando, fugindo do sol. Você não. Você precisa correr. Correr é uma droga. Correr vicia.

Sem falar do percurso, que em geral sai e retorna ao mesmo ponto. Você chega na metade sem água, sem forças, sem ânimo, e tem todo o caminho pra voltar. Você já sabe o que vai enfrentar... Subidas, descidas, sombras, muito sol... O caminho se desenha na sua cabeça, e martela um mantra desesperador sobre o caldo de cana geladíssimo, logo ali na frente. Sua mente é colocada à prova.

E me perguntam porque eu corro... Eu corro porque correr nunca foi fácil, e nunca vai ser. Eu era estudante e correr era difícil; eu fui estagiário e correr era difícil; eu sou empresário e correr continua difícil. Não importa seu carro, quantas namoradas você possui ou o cargo que você carrega na sua empresa. Não importa se tem família, se é velho, se é novo. Correr nos coloca no mesmo patamar. Ninguém é vítima, e ninguém é vilão.

Eu corro pra me colocar no meu lugar. Eu corro pra sofrer enquanto um velhinho passa tranqüilo, e corro pra passar tranqüilo por um adolescente. Eu corro pra brigar, pra comprar a briga comigo mesmo e provar, sofra o quanto sofrer, que sim, eu consigo. E corro pra meditar, e colocar tudo no seu devido lugar.

Eu corro pra ser parte de algo. Correr é ser parte de um mundo onde não importa nada além da sua própria determinação. Não corro pra vencer dos outros. Corro pra me lembrar que é ruim com chuva, e é ruim com sol também, e que reclamar disso nunca muda nada.

Eu corro porque eu gosto de correr. Não sei se tenho um bom motivo pra isso. Sei que não tenho nenhum que me faça parar. ponto.

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