quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Sebastião e sua razão

Crescem as redes sociais e, em aparente proporção, crescem os julgamentos interpessoais. Ao que parece, julgar outrem nunca esteve tão em alta! Mas também pudera... Antigamente, você pegava um currículo, telefonava para as referências e estava feito o esqueleto. Hoje, você visita o blog, o twitter, o facebook, o orkut, o fotolog, o canal do YouTube e acaba conhecendo a pessoal de fato como ela é. Certo?! Não sei...

De volta à sala de aula, acabei me deparando com uma situação engraçada... À minha volta, proprietários de micro e pequenas empresas (como eu), programadores, estagiários e consultores. À exceção de poucos egocêntricos famigerados, nenhum de nós tinha qualquer noção sobre quem estava ao redor. A tensão era notável, pareciam todos com medo de provar que eram "menos" do que quem estava ao lado...

Mas eu, definitivamente, tenso não estava. E pus-me na posição de estudante, fazendo perguntas bestas e interagindo com o instrutor, que parecia tão inexperiente quanto sensato nas suas afirmações. E os outros me olhavam...

E me olhavam... e me olhavam... e me olharam. Acho que não gostaram de algo... Tive, ao final, a impressão de que passei por rude e esnobe ao questionar determinados pontos. E me dividi. Ao mesmo tempo que poderia ter-me calado, me juntando à massa oculta que se escondia atrás dos monitores, pus-me em evidência, abrindo margem para julgamentos desnecessários e, por que não dizer, provavelmente distorcidos.

E vá dizer que isso não acontece sempre, em outras situações?! Estamos sempre julgando, sempre pensando nas razões que levaram a outra pessoa a tomar determinadas decisões ou atitudes... Sempre, sempre... é uma força incontrolável, e é uma força problemática. Custamos a lembrar que, ao julgarmos alguém, estamos sempre baseando o julgamento nas coisas que nós conseguimos (ou não) imaginar; baseamos naquilo que conseguíriamos viver. Como se a outra pessoa tivesse a vida limitada às nossas experiências pessoais, e não às dela...

Daí me vem à cabeça uma das melhores frases que já li num livro - e, de fato, uma das maiores verdades que já li. O crédito é do vereador Sebastião Freitas, personagem de Machado de Assis em O Alienista... Eis que, em determinado momento, Sebastião resolve se rebelar contra Simão Bacamarte, o homem que internava quem quer que fosse julgado (por ele mesmo) "alienado". E ele solta a máxima:

"Nada tenho que ver com a ciência; mas se tantos homens em que supomos juízo são reclusos por dementes, quem nos afirma que o alienado não é o alienista?"

Simão Bacamarte não o perdoou, e Sebastião acabou recluso como os outros. Mas, pensando bem... até que Sebastião tinha sua razão, não?! Abraços, e ponto.

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