A casa da minha (avó) já não é mais como era antigamente. As paredes do prédio estão mal-cuidadas, o hall de entrada parece um canteiro de obras e o elevador não forma mais um degrau: fora trocado e agora ele pára exatamente no andar. Mas dentro, porta adentro, os móveis continuam iguais, o carpet continua azul na sala de TV, a cozinha-corredor manteve seu azuleijo cor-de-rosa, as janelas são ainda fechadas por conta do frio e a mesa, como sempre estivera, permaneceu farta, oferecendo um café perfeito para o inverno curitibano.
A cada ano, ao sentarmos na mesa, olhamos em volta e notamos as mudanças da família. Todos fazem isso, consciente ou inconscientemente. E não tenha dúvidas de que, mesmo tendo crescido um bocado, continuamos compondo a "mesa dos jovens", que come após os "adultos" já terem se servido. Afinal, historicamente, as crianças querem brincar - e não comer - quando se reúnem. Na nossa família isso não fora diferente!
Depois de satisfeitos, nos acomodamos sala de TV. O sofá continua o mesmo, a tapeçaria da parede, o faustão na telinha... É tudo igual. Aliás, há uma novidade: quem se joga no sofá, se enfia entre as poltronas e se esconde atrás das almofadas não somos mais nós. Há uma nova geração agora, os filhos dos meus primos, que fazem este papel. E a nossa geração se divide: alguns fazem o papel de adulto, freiando as crianças; outros fazem papel de criança, agregando sapecagem às brincadeiras.
Do parapeito daquela sala vi o gramado do térreo. Nove anos antes, no aniversário de 70 anos da minha avó, fizemos uma serenata para ela. Lembro-me que eu e meu irmão estávamos começando a tocar violão (e eu ainda com o cavaquinho), e cantamos Roberto Carlos com velas empunhadas e violões "afinados", seguido de um "Parabéns para você" meio em ritmo de samba, meio em ritmo normal. Quando nos lembramos disso, minha prima tirou a faixa que levamos naquela noite, que dizía "Vó Adelaide - Nós te amamos". Foi muito legal - ao menos para mim - relembrar disso; eu já havia mesmo esquecido...
E assim foi, entre tantas outras histórias... Minha avó já não tem mais uma boa cabeça; pouco se lembra de atos recentes, e eventualmente esquece alguns mais antigos. Mas a expressão de alegria no rosto e no sorriso dela, ao nos ver chegando, foi única. A impressão que tive, ao cumprimentá-la, foi que ela, agora, está apenas pelo coração; deixou de viver pela razão. Mas bem... se é assim, loucos talvez sejamos nós, ao taxá-la de doente. Vai ver, ela está tentando é nos ensinar algo, enquanto ainda tem tempo para isso... ponto.
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