segunda-feira, 29 de junho de 2009

21, não! 21.097!!

As segundas-feiras têm tido uma graça diferente ultimamente. Não sei porque, mas tenho voltado a dormir bem nos finais de semana, voltado a ver graça no ar puro, no prego no Palha, na grama molhada do pouso, no filminho e no café de sábado à tarde... O stress que me atormentava no começo do ano parece finalmente estar dando lugar àquela paz que eu tanto queria. E por isso, claro, eu, como bom hiperativo, estou procurando o que fazer! :-)

Falando nisso, a próxima de 2009 será os 21.097 metros que correrei no próximo domingo, dia 5, lá em Foz do Iguaçu. A meia maratona das Cataratas, organizada pela ProCorrer, tem uma fama fenomenal na comunidade de corredores - ao menos aqui em Curitiba. Também pudera: os últimos quilômetros são nada menos do que dentro do Parque Nacional do Iguaçu. Pensou nas paisagens? Eu também!

E hoje fiz meu último treino para ela. Não me empenhei o quanto poderia para esta prova, mas estou bem treinado para ao menos terminá-la em bom estado. Hoje fiz cerca de 16.5km e encerrei meus treinos "longos". Agora é só manter os ânimos, fazer treinos curtos e aguardar a prova - para a qual parto às 17h50 da próxima sexta-feira, já dia 3.

E é isso. Escrevendo apenas pra deixar registrada a sensação da prova. A ansiedade já começa a bater, afinal há sempre um pequeno desafio pessoal nestas corridas. Não é que queira o pódium; mas é fato que almejo terminá-la em bom estado! E, até hoje, só fiz uma meia maratona, a da PUC-PR em 2006. A expectativa então está alta!! E vamos pra cima!!!!! ponto.


PS: aderi hoje a uma nova campanha: xixi no banho! Depois de anos, anos, sendo reprimido por minha mãe para que não o fizesse, há agora uma ONG que nos incentiva a economizar água expelindo nossos líquidos durante uma gostosa ducha. Eu, que já era fã de dois banhos por dia, adotei na hora! O chato é que, até então, eu tinha um simplório costume de só expor as "partes" e "fazer o serviço". Agora é preciso tirar toda a roupa, esperar a água esquentar, ver se a toalha está limpa... Confesso que dá mais trabalho! Mas tudo pelo meio-ambiente, certo?! :-)

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Enquanto isso, na sala da diretoria...

- Eu adoro chuva à noite. Sempre que chove, durmo de bom humor. As pessoas saem menos de casa, correm menos de carro, buzinam menos, dormem mais cedo, fazendo com que a cidade fique mais quieta. Associe isso ao barulho de cada gota batendo na sua janela e você tem uma noite de sono perfeita... Diferente de uma manhã chuvosa. De manhã, as pessoas acordam com preguiça e de mau humor, andam mais devagar no trânsito, congestionam toda a cidade e ficam buzinando no seu ouvido. Odeio chuva de manhã...

- Por falar em carro, vi uma Ipanema BORDÔ para vender. Tirei até foto para ajudar o vendedor! Tá interessado?


- Acho que estou ficando velho. Recebi por e-mail uma charge de trocentos anos atrás e me cag.. de rir de novo. Mas vai dizer que não é cômica?!

Pra um dia cinza, está mais do que bom! Abraços. ponto.

domingo, 21 de junho de 2009

Sol de inverno

Não há nada, nada, como um bom fim de semana pra começar bem a próxima. Arrisco até dizer que tentar viver a vida em ciclos anuais ou mensais seria um grande pecado; talvez devêssemos simplesmente dividir a vida em pequenos ciclos, como o semanal, para que conseguíssemos aproveitar mais o pouco tempo que nos deram aqui embaixo. Na terra, no caso. E lá fui eu, para um típico sábado e domingo de sol no inverno.

O treino de 10km no sábado serviu para dar o gás inicial. Apesar do pequeno sofrimento com o calor, uma vez que corro mais à noite, a paisagem é completamente diferente com a luz do sol; acaba sendo mais viva, e ganhando mais movimento mesmo. Pessoas passeando, estudantes matando aula, cachorros descomendo nos gramados... Tudo com muita classe, digna de nós - curitibanos!

Cheguei em casa e fui para o segundo tempo: o vôo, é claro. O Morro da Palha estava numa condição muito divertida, e fizemos um vôozinho local de cerca de 30 minutos; eu, mesmo sem instrumento, revi os amigos, falamos bem de alguns, mal de outrem, voamos, comemos batatas fritas e volta pra Curitiba. O terceiro tempo me esperava!!

Este terceiro foi curto, pela falta de capacidade de alguns amigos de manterem seus compromissos sociais. No casamento de um amigo e colega de trabalho, fui da empresa apenas eu. Resultado: fui na igreja, dei um pouco de risada, dei um abraço "apressado" nos noivos (pois eles têm toda uma rotina a cumprir, afinal), e fui-me embora. É pena; mas é a vida...

A pizza à noite ficou por conta de risos e divertimentos, e acabou cedo, dignamente de alguém que iria acordar cedo no outro dia para voltar ao morro. Mas estava boa - a pizza e as risadas.

No domingo voltamos à Cordilheira do Santana, local pelo qual sou apaixonado desde que comecei a voar. Talvez haja uma relação com eu ter começado a voar lá, ou talvez seja simplesmente por conta da beleza do lugar. Não importa. O local continua fantástico, o pôr-do-sol indescritível e o vôo... Bem, que vôo?! Vôo só dá às vezes; mas o local tem uma churrasqueira fantástica hehe... :)


E agora estou aqui, de volta ao aconchego do lar. Este fim de semana é mais ou menos o que eu poderia chamar de "rotina" - à exceção do casamento, pois não sou "acompanhante" para ter um casamento a cada fim de semana. Apesar do peso desta palavra ("rotina"), de fato não consigo, hoje, pensar em uma rotina melhor. Ver os amigos, rir, comemorar, voar e observar o sol se pôr é quase um misto de todas as coisas que considero importantes pro meu viver. Então... por quê não abraçar a rotina, em prol de uma segunda-feira bem humorada! Certo?! :-) Abraços, e ponto.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Sexta-feira

Não foi o sol que não acordou, nem o frio que também não esquentou. Não foi o almoço, nem a janta, nem uma mensagem, quanto menos a paisagem. Não foi o stress, não foi a calma. Não houve choro e não fora o sorriso; não foi o filme, nem o lenço, não foi o som, não foi o silêncio. Não foi o novo, e velho foi por pouco. Não houve lenda, não houve fé, não teve malandro humilde nem mané. Não foi nada, nada, nada, não teve riso nem piada. Foi só um dia, mais um dia. Mais um passo na vida privada. Mais um caso de opinião formada. Mais um traço na vida parada. ponto.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Por um ar diferente

É porque não seria uma ilha se o sol não se pusesse no mar! Bom... Até poderia ser! Mas, para os habitantes da costa leste de qualquer lugar do mundo, há sempre uma beleza especial quando o sol toca a água ao invés de tocar o chão. E, atrás desta beleza, lá fui eu para a Ilha do Mel (PR), há pouco mais de 150km de Curitiba.


Ilha do Mel - Rampa de Decolagem


Esta viagem ainda teve um "plus". Ou melhor, quatro: meu irmão; uma amiga de muito tempo; uma ex-vizinha muito gente boa e seu namorado (que visitavam a cidade). E iríamos, entre outras coisas, para voar de parapente!!

Não eram 11h quando nossos pés tocaram o trapiche da praia de Encantadas, já na ilha, e o branco do céu lentamente dava espaço para um azul limpo e claro. O ar de um lugar levemente deserto, onde carros não passam e todos estão mais preocupados consigo mesmos do que com os outros, sempre causa uma sensação diferente no nosso corpo. E dessa vez, tendo eu levado a Tainá junto, foi ainda mais legal! Foi nossa primeira viagem juntos, fora as vezes em que fui visitá-la; e somos amigos há mais de 9 anos hehe...


Eu e Tainá


O resto do pessoal chegou mais tarde, e fomos para a rampa para ver se conseguiríamos voar. Voar de verdade não deu, mas deu um belo "passeio pelo ar" para meu irmão e para a Tainá que, na posição de "meus passageiros", fizeram um breve vôo e saíram com o sorriso "nas orelhas".


Eu e meu irmão em vôo


Minha intenção enquanto piloto de duplo, pelo menos por enquanto, é bem simples: ver a pessoa não conseguir parar de sorrir após o pouso. E foi exatamente essa a reação dos dois, para minha alegria!

Foi pena mesmo que o vôo legal só rolou domingo! Sem qualquer edição, pois minhas capacidades e paciência para isto são limitadas, postei o vídeo no youtube e "le voilà": http://www.youtube.com/watch?v=PwMLHtPRsnU

E, só pra terminar, como que não pudesse faltar, o sol se pôs em minha frente enquanto esperava o Zem e a Mari, amigos e parceiros de vôo, para voltar pra casa.

Pôr-do-sol

Há um "q" diferente quando passamos fins de semana em lugares diferentes e com pessoas que gostamos. Deste fim de semana, além dos já citados, também participaram os colegas de vôo Nick e Didi. E assim, bem simples, sem muito luxo e com bem pouco lixo, parece que conseguimos dar um pequeno respiro à nossa alma, que parece estar perfeitamente descansada nesta segunda-feira. E que fique assim até a próxima, afinal! Abraços, e-ponto.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Cordas para meu corpo

Voltei à minha infância! Hoje, 12 de junho de 2009, comprei um novo brinquedo: um violão de 7 cordas! E, literalmente, voltei a ser criança! Estou eufórico, encantado, extasiado e ao mesmo tempo preocupado! Será que vou conseguir? Será que vai soar bem? Será que é bom? Será? Será? Será?


Quem me conhece há um pouco mais de tempo já sabe da minha paixão pela música - que, estou certo, começou muito cedo, quando minha mãe tocava Ursinho Pimpão no violão para que nós cantássemos junto. Quando pergunto a ela, ela diz que nunca fora boa. Bom... Sorte minha que minha lembrança não pode ser mudada, pois pra mim ela era fantástica tocando!

Ainda assim, apesar da convivência precoce, demorei para colocar as mãos num instrumento. Eu devia ter 7 ou 8 anos quando comecei a fazer aulas de teclado, mas as abandonei por pura falta de interesse. Aos 14, levado pelo entusiasmo das batucadas dos nossos tantãs familiares, comprei um cavaquinho. Lembro-me bem que vendi um video-game para comprar o instrumento, e aquilo fora o máximo (era meu primeiro negócio de gente grande, afinal!).

O cavaco foi divertido e me trouxe muitas alegrias. Mas cavaquinho é um instrumento que exige muitos, muitos amigos e, por isso, não se encaixava no meu jeito por vezes excessivamente auto-suficiente. Tocar cavaquinho sozinho não dá, e nem é um instrumento completo - é meramente um acompanhante. Foi quando comecei a arriscar as primeiras notas no violão - aquele mesmo que minha mãe guardara desde outra época.

Para constar: o violão dela, que hoje uso com muito gosto, data de março de 1975. Naquela época, mesmo os violões "de linha" eram já muito bacanas...


O violão acabou me encantando por ser um instrumento completo, portanto solitário - como eu quando toco gosto de ser. Posso me fechar num canto e conversar com minhas 6 cordas, e elas respondem de forma perfeita aos meus sentimentos: ora estão suaves, ora estão nervosas, ora estão tensas, ora calmas...

Música é mesmo uma forma fantástica de se expressar, ao menos pra mim. E cheguei num ponto que, penso, faltam recursos para expressar esta bagunça. Não é que eu seja um músico ímpar, fantástico... Pelo contrário, sou apenas um entusiasta! Mas um entusiasta que resolveu, justamente, estudar música brasileira...

E música brasileira, leia-se samba, choro e alguma bossa, é uma forma totalmente diferente das conhecidas mundialmente. De opinião pessoal, ela é como eu: sempre feliz, mas quase sempre com um fundinho de tristeza...

E esta tristeza não pode ser expressada diferente na música se não com tons mais graves. Talvez, todo músico - ou projeto disso, no meu caso - chegue a esta conclusão um dia. Eu, pelo menos, cheguei ontem. E hoje comprei meu brinquedo novo!

E, daí, voltei a ser criança na música, pois ainda nem sei qual é a afinação comum da 7a. corda! É uma sensação fantástica... Estou dando pulos de êxtase por dentro e, por amanhã que irei viajar, já estou sentido saudades do Tom. Isso, resolvi dar um nome pra ele... Coisa de autista, eu sei, eu sei... :)


E é isso. Este é o Tom. É um violão básico, de estudante, para que eu possa ver se realmente me adequarei. Um instrumento novo é como qualquer relação... Olhando de fora, é sempre um sonho; olhando de dentro, há mais variáveis do que se imagina... Ao conviver por 10 minutos com ele dentro da loja, eu senti o "click" necessário (como diria um certo alguém); estou apaixonado. Resta saber se o "click" será mantido ao longo do tempo... Abraços, e-ponto.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Subindo nas paredes, mas de uma boa forma

Foi em 2004, quando subir pelas paredes (no sentido estressado) era algo bem difundido entre os colaboradores da empresa em que trabalhava, que eu descobri uma alternativa literal ao senso comum: me matriculei num ginásio de escalada!

Por conta da minha disponibilidade, na época, escalava apenas aos sábados - mas todo sábado. Era sagrado; almoçávamos e íamos para o Campo Base, que até hoje considero o melhor ambiente que temos em Curitiba/PR para o esporte. Um dia levei meu irmão, e no segundo fim de semana ele já tinha virado meu parceiro de muro. E o vício seguia - como em qualquer ação que libera endorfina!





Anhangava, em 2005



Com o tempo, ou a falta dele, parei de escalar, mas em 2008 voltei a fazê-lo na Via Aventura, uma academia também muito bacana. E agora, em 2009, lá estou eu na Campo Base, voltando às origens. Ou, pelo menos, é o que tenho feito já há 3 terças-feiras com alguns amigos do vôo-livre...

A escalada é um dos esportes que considero mais completo. Não é que ele seja completo com a natação, que vai mexer com todos os seus músculos e ainda reforçar a respiração, mas sim porque não é possível escalar pensando em outra coisa. Penso, então, que seja um esporte perfeito pois você trabalha aeróbico, anaeróbico e mental. E quem há de questionar a importância da saúde neste último ponto?!

O anaeróbico, como podemos imaginar, está na força que é necessária. Porém, ao contrário do que se pensa, é preciso muito menos músculos do que para fazer flexões de braço, por exemplo. Na escalada, estão muito mais em evidência o equilíbrio, a postura, a cabeça e as pernas - isso mesmo, pernas! As pernas são mais importantes que os braços, pois é mais certo "empurrar" seu corpo do que "puxá-lo"!!

O anaeróbico é trabalhado devido à resistência necessária para subir muros maiores; não basta ter força nem equilíbrio, é preciso ter resistência pra atividade - que pode prosseguir ininterruptamente por vários minutos...

E o mental, essencialmente importante no mundo atual, devido à nossa falta de capacidade de conseguir sentir raiva de duas coisas ao mesmo tempo! Você fica tão enfurecido de não conseguir segurar na #@%$#^# da agarra que você se esquece dos problemas com chefes, colegas de trabalho, pais ou clientes. Lá, seu maior problema é que a agarra é pequena demais para os seus dedos!!!

E é isso. Exercício para qualquer pessoa acima de 6 anos, e sem limites para progredir. Se me perguntarem o que eu quero fazer quando crescer, a escalada está de certo nesta lista! Em último caso, é uma forma relativamente fácil de subir na vida! Certo?! :o) Abraços, e-ponto.

domingo, 7 de junho de 2009

Sábado? Vou ali, até Castro! E de bicicleta...

Ainda não eram 4h quando acordei para beber água; 3h53, para dizer a verdade, e os últimos 7 minutos que tinha de sono passei de olhos fechados e coração já palpitando. Chegara o dia combinado, e a hora de se preparar.

O despertador finalmente tocou e tudo já estava basicamente pronto: a bike estava dentro de casa e já havia prendido todos os penduricalhos necessários nela. Três coisas arguardavam na geladeira: quatro sanduíches, 750ml de isotônico e 2l de água (do Camelbak). Tomei um banho quente, vesti minha roupa térmica, tomei um café da manhã relativamente reforçado (comer às 4h30 não é exatamente confortável) e prendi a mochila que faltava no bagageiro da bicicleta (bagageiro que havia comprado especialmente para a viagem). Meu pai acordou, e lá fomos para o ponto de encontro.


Chegamos lá e comecei a conhecer o pessoal. Nomes? Esqueça. À exceção dos que já conhecia, só lembro do nome de um outro. Para não ofender ninguém, não vou citar nenhum :) De qualquer forma, estava todos lá com o mesmo objetivo: passar frio, fome, cansaço, reclamar das subidas e quase serem atropelados por carros na contra-mão nos trechos de descida......... Ops, desculpe; estes foram os pontos divertidos. O objetivo mesmo era chegar em Castro/PR, há exatos 125km de Curitiba pela estrada do Cerne. E pensa numa estrada...

A saída foi congelante. Com 15 minutos de atraso nos encontramos, e eram exatas 6 horas da manhã do dia 6 de junho, um sábado de céu limpo no qual a lua parecia ter sido delicadamente pintada, quando saímos de Santa Felicidade rumo ao nosso destino. E com frio, muito frio...

Subestimei o frio ao colocar apenas uma blusa por cima da lycra, e também ao usar uma luva fina - apesar de ser a única que tinha. Quando pegamos as descidas do começo da estrada, ainda no asfalto, eu sentia meus ossos congelarem - literalmente. Doía mais do que bater a cabeça na parede, mas continuamos com ânimo pois o sol já nasceria.

A estrada do Cerne, para quem não conhece, é um destes projetos magníficos do nosso governador Roberto Requião, o qual está realmente engajado na missão de cortar o pedágio do Paraná. Por isso, ele está asfaltando aquele fim de mundo, ao invés de investir na educação e na saúde das pessoas. Mas bom... naquela hora, até que o asfalto dele fez bem :)



Seguimos por asfalto até o município de Bateias, onde foi nossa primeira parada. Chegar até lá foi rápido, talvez devido ao grande número de descidas que tivemos. Já estava claro mas o sol não havia nascido ainda, e paramos para tomar café logo abaixo da placa que indicava Ouro Fino para um lado e o Cerne para outro.

Durante o café, com a mandíbula (con)gelada, mordi o lábio de baixo. A dor foi novamente magnífica, mas o mais engraçado é que realmente sangrou - a ponto de eu ver sangue no sanduíche. Eu sei que é nojento (e peço desculpas!), mas é também uma boa referência pra indicar o nível do frio: você perde a noção se as coisas realmente machucaram ou se só estão doendo de frio. Nesta hora, minhas mãos não fechavam (dedos gelados) e meus pés doíam. Mas o ânimo estava a toda!! Eram cerca de 7h...

Muito importante neste tipo de "aventura" é não deixar o corpo perceber que ele está sendo mal-tratado. Isso se consegue de três formas: a primeira é treinando mesmo, afinal, um corpo treinado agüenta mais o tranco. A segunda é um lema bem conhecido entre os atletas: "comer antes de ter fome, beber antes de ter sede". Fome e sede são duas sensações de pânico do nosso corpo, e esperá-los chegar é como deixar que o combustível acabe antes de abastecer: demorará muito mais para retomar viagem, pois o corpo precisará retomar o ponto de "alta" antes de te dar o gás novamente. E o terceiro, e talvez mais importante, é manter o psicológico em cima. O corpo não é nada sem a cabeça, afinal de contas...

Com o café tomado, seguimos e logo o asfalto acabou. O sol já tinha nascido, mas como estávamos abaixo do relevo, as primeiras horas com sol serviram apenas para nos esfriar mais ainda. Os vales estavam fabulosos com a névoa abaixo de nosso nível, mas pedalávamos ainda congelados, e agora sem asfalto. Nosso próximo ponto de encontro oficial era o trevo que saía para Ponta Grossa - "e nós deveríamos pegar a outra direção". Isotônico a postos, gel de carboidrato com fácil acesso e lá fomos nós!


A estrada, mesmo de cascalho, estava numa condição muito boa. Achei que seria mesmo mais acidentado o terreno, e isso era o que me preocupava. Mas estava tão boa que, nas descidas, chegamos a passar dos 50km/h - e "com segurança"! Bom, ou ao menos parecia seguro...

Ponto curioso: no pedal inteiro, vi apenas uma placa de sinalização de quilometragem - mas vi! Era igual às da BR que estamos acostumados, e indicava o "km 49". O que ela estava realmente fazendo lá, no meio do nada? Ora, sinalizando o quilômetro 49! :)

Um ponto tenso do passeio foi uma descida mais forte em que abrimos para a contra-mão na curva. Com velocidade e cascalho solto no chão, há um limite para fazer uma curva com segurança - sem cair. E o limite era maior do que o raio da curva, fazendo com que todos nós passássemos para a esquerda da pista. O que ninguém contava - mas que deveria ser óbvio - é que uma Courier prateada estava vindo na direção oposta! O motorista se desesperou, mas desviou o quanto conseguiu, e nós também - é claro. Qualquer movimento diferente de um dos dois lados teria terminado num fim de brincadeira meio trágico. Ufa! Susto passado (eu fui um dos que mais assustou hehe), vamos pra frente que a descida ainda não acabou!!

Triste do Cerne é que sempre, sempre, depois de uma descida tem um rio. É triste porque você entende a descida: você estava no alto de um morro; a água passa por baixo desse morro; você desce até esse nível mas, passando-o, tem outro morro! Afinal, a água passa por baixo deste outro morro. Não é que isso seja uma regra, mas nesta estrada era - e isso aconteceu três vezes. Na última vez, pedalamos por 2.5km sem sequer um trecho plano ou de descida. Só subindo, na marcha mais leve na qual era possível pedalar...


Pedalei por muito tempo sozinho também, e foi ótimo para a cabeça. Por mais que estivéssemos num grupo grande (12 pessoas), e por mais que os 12 pedalassem no mesmo ritmo (um era mais forte, mas acompanhou o grupo), o grupo se dividia por diversas vezes - hora por intenção, hora não. Uma das bikes, por exemplo, teve o pneu furado três vezes. E hoje, quando fui buscar a minha bike (todas voltaram juntas), vi que o pneu dele continuava furado. Este sofreu...

Mas bem. Algumas montanhas russas depois, chegamos num vilarejo chamado Abapã. Aliás, vilarejo não: uma verdadeira cidade! Foi o primeiro sinal de organização que vimos, desde Bateias. Aqui tinha posto de gasolina, mercearia, uma lanchonete com capacidade pra umas 30 pessoas e até a rua principal tinha nome: Avenida Rio de Janeiro. Detalhe que não haviam números nas casas - mas isso, concluí, seria pedir demais. Ter placas de ruas já era demais!!

Em Abapã fizemos nossa última parada oficial, e nesta lanchonete pudemos medir a febre de todos - que estava super boa! A galera ainda estava animada, 100km depois do início... O Rodrigo Stulzer (http://transpirando.com), que me convidou para este pedal, fez um vídeo nesta hora. Quando sair, ele aparece por aqui.

Esta hora foi feliz pois marcava o início real dos Campos Gerais, e aqui - teoricamente - as subidas teriam acabado. Teoricamente... Na prática, tivemos mais cerca de 3km de subidas leves, mas que serviram pra judiar mais um pouco.


Depois de Abapã as paisagens tornaram-se belíssimas. A lua nasceu e, enquanto pedalávamos no sentido do sol poente, podíamos ver a lua cheia saindo de trás de paisagens dignas de filmes e fundos de tela. É pena que eu não tenha levado qualquer máquina fotográfica (fiquei preocupado), mas quatro de nós levaram e as fotos também aparecerão em breve no meu orkut, ou mesmo por aqui!

E, de repente, bem de repente, estava lá. Avistamos Castro, e a alegria deu o gás faltante para os últimos 4km de pedal antes do asfalto. Daqui pra frente, lembro que só queria manter os 25km/h que pedalávamos, não importava se estávamos subindo ou estávamos no plano... Castro estava ali, e eu queria chegar antes do sol de por completamente. Por quê? Pelo frio, é claro! Já dava para sentir ele vindo...

Chegamos no asfalto poucos minutos depois, e ali paramos para agrupar novamente. A visão do asfalto foi outra fantástica, e encheu minha alma de alegria novamente. Nós havíamos conseguido! Tínhamos pedalado o Cerne e lá estávamos!

Com todo mundo junto, tocamos rumo a Castro. No meio da cidade, uma última subida antes de chegarmos na praça - ponto de encontro, e enfim chegamos. E corri pro abraço, literalmente, cumprimentando cada um dos companheiros, colegas e parceiros que lutaram junto contra os 125km. A sensação foi maravilhosa, e a companhia não podia ter sido melhor.



E agora, com 12 horas de sono e algumas mil calorias já repostas, estou aqui curtindo algumas dores musculares - como pescoço e punhos. De fato não há como descrever certas sensações que sentimos na vida. Olhando de fora, fomos sem dúvida alguma taxados de loucos por muitos que passaram por nós, ou pelos quais passamos. Não importa. Se ser louco significa sentir tamanha alegria, então eu quero é ser muito louco!! Abraços, e ponto.

PS.: Neste pedal, pedalaram: http://transpirando.com ; http://pedaleiro.com.br ; http://odois.org . Fotos, vídeos e relatos poderão ser vistos lá também!

Créditos das Fotos: Rafael Gassner; álbum completo no site http://rgg.homelinux.com:8080/coppermine/thumbnails.php?album=1442